Alentejo

Terra da grande planície que se estende desde o rio Tejo até ao Algarve, o grande territótio do Alentejo era, além de celeiro nacional, o território onde existiam mais cidades e vilas populosas no Portugal dos sécs XIV e XV .

Em grande parte situados em zona fronteiriça, estes centros puderam assim acolher muitas comunidades judaicas que se desenvolveram e que, no séc XV mostravam grande influência económica e social. Évora era uma das três mais importantes cidades de Portugal mas a organização sefardita estendia-se a outros núcleos fortes tais como Beja, Olivença, Estremoz, Castelo de Vide, Portalegre, Serpa, Elvas, Santiago do Cacém, Arraiolos, Avis, Montemor-o-Novo, Moura, Nisa, Portel, Viana do Alentejo, Arronches, Crato, Borba e Monsaraz.

Algumas destas comunidades datavam já do período muçulmano (Évora). Outras começaram a acompanhar a reconquista cristã que ia avançando para sul.

Ainda assim, o bairro judeu separado do cristão era norma nas maiores comunas sefarditas alentejanas.

 


 

Estas duas cantigas fez um judeu d'Elvas, que havia nome Vidal, por amor d'ũa judia de sa vila que havia nome Dona. E pero que é bem que o bem que home faz se nom perça, mandamo-lo screver. E nom sabemos mais dela[s] mais de duas cobras, a primeira cobra de cada ũa.

Moir, e faço dereito,
por ũa dona d'Elvas,
que me trage tolheito,
com'a quem dam as ervas.
Des que lh'eu vi o peito
branco, dix'às sas servas:
- A mia coita nom há par,
ca sei que me quer matar;
e quero eu morrer por ela,
ca me nom poss'en guardar.
Amor hei..................

Cantiga de Amor, Fontes manuscritas, B 1605, V 1138

Nota geral:
Como faz questão de notar explicitamente o autor da rubrica que acompanha a composição (muito provavelmente o Conde D. Pedro de Barcelos), as duas cantigas do judeu Vidal transcritas pelos apógrafos italianos (esta e a que a segue) situam-se numa zona que não coincide exatamente com o modelo normativo da cantiga de amor à maneira provençal cultivada pelos trovadores galego-portugueses. Mas o explícito reconhecimento que a rubrica faz de que, apesar de tudo (e de o seu autor ser um judeu), elas são dignas de figurar na grande recolha trovadoresca constitui, não só uma sorte para nós, mas um sinal claro dos critérios de qualidade que teriam presidido à compilação das cantigas. Embora levantando alguns problemas de edição, estamos, de facto, perante duas notáveis cantigas de amor, infelizmente as únicas que nos chegaram deste judeu de Elvas (como, aliás, parece também lamentar o autor da rubrica).

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