Fundão

Fundão

A história do Fundão enquanto centro urbano proeminente é condicionada desde o início pelos cristãos-novos, então já influentes nos concelhos vizinhos de Belmonte e da Covilhã. Após a expulsão dos judeus espanhóis em 1492, pelos reis católicos Fernando e Isabel, grande número de refugiados veio a estabelecer-se na Cova da Beira, onde já havia minorias judaicas significativas.

Foram estes imigrantes  fundando bairros - entre os quais o mais importante se situava em volta da Rua da Cale -  que permitiram ao local Fundão assumir as dimensões de uma verdadeira cidade. O influxo de mercadores e artesãos judeus transformaria a cidade num centro importante para o comércio e a indústria.

Com o estabelecimento da Inquisição, começaram as perseguições aos judeus e cristãos-novos, tendo sido numerosas as expropriações, as torturas e as execuções. Ainda hoje são frequentes os nomes dos cristãos-novos nos habitantes da cidade. O Fundão perdeu assim nessa altura grande parte do seu dinamismo económico. Durante cerca de dois séculos, mais de 400 naturais ou moradores foram acusados pelo Tribunal do Santo Ofício, um número raro nas cidades portuguesas.

Em 1580 os notáveis da cidade deram o seu apoio ao Prior do Crato D. António, contra as pretensões do Rei de Espanha D. Filipe II (Filipe I de Portugal). Nesse ano elevaram unilateralmente eles próprios o Fundão ao estatuto de Vila. O concelho foi fundado em 1747 por ordem de D. João V, emancipando-o da Covilhã.

No período do Iluminismo do fim do Século XVIII, o então Primeiro-ministro do reino, o Marquês de Pombal, após equiparar legalmente os cristãos-novos aos cristãos-velhos, procurou restaurar a preeminência económica da cidade fundando a Real Fábrica de Lanifícios, onde hoje está situada a Câmara Municipal. Nessa altura voltaram a ser exportados em quantidade os tecidos de lã do Fundão. No século XIX o Fundão foi saqueado durante as Invasões Francesas, e voltou a sofrer durante a Guerra Civil entre os Liberais pró-D. Pedro II e os Conservadores pró-D. Miguel.

Em 1580 acontece nesta cidade o único caso, conhecido em Portugal, de organização de uma revolta organizada contra a Inquisição.

Entre as personalidades de grande relevância, naturais do Fundão, regista-se António Fernández Carvajal (c.1590– 1659),  grande empresário que, perseguido pela inquisição, se veio a instalar em Inglaterra onde acabou por sediar uma grande empresa de navegação comercial oceânica.

 

Fundão – Ruas com Memória

 

O estrato cultural judaico patente na história do Fundão tem sido uma das coordenadas mais firmes nos discursos da sua identidade.

O Fundão foi um território de destino e passagem entre a Estrela e os horizontes do Sul. Aqui afluíram os judeus da diáspora e daqui fluíram para outras geografias. A implantação das estruturas da intolerância dominante até ao Séc. XIX ocultou uma miscigenação de hábitos e de desígnios. A comunidade judaica muta-se em subtis horizontes, cristãos-novos entre paisagens de conversos, os ritmos vigiados e a fé do coração. Hoje, o edificado da zona histórica encobre memórias de um quotidiano de sombras e vozes que ecoam no tempo.

A memória judaica congrega-se na rua da Cale. No Séc. XX, Moisés Abrantes, grande protector da história judaica do Fundão, lembrava a “Kahal”, a rua onde os judeus se encontrariam para praticar o seu culto e, também, a casa onde se produzia pão ázimo: “Foi uma cristã-nova vinda de Espanha que começou a fabricar o (…) pão de Cale ou pão espanhol (…). Quantas vezes, na nossa meninice, lá fomos comprar-lhe uns passarinhos feitos de alva massa!”.

Aqui existem outras vertentes do passado judeu, como o labirinto paterno de Fernando Pessoa, um domínio que assevera um eixo da cidadania universal. O Fundão judaico quer ser uma terra de redescoberta e de reflexão de tantas verdades solidificadas numa geografia que religa a crença, o tempo, a consciência e o coração. Lembrou um dia Pessoa: «Sê tolerante porque não tens a certeza de nada».

 

Contactos e pontos de apoio à visitação:

 

Posto do Turismo do Fundão

Rua 5 de Outubro nº 11 – A

275 779 040

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A Moagem – Cidade do Engenho e das Artes

Largo da Estação

275 779 032

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Galeria de Imagens

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