Concerto de Música Sefardita

O Teatro Ibérico tem o prazer de apresentar, no dia 26 de Outubro, às 21H00, o concerto de Música Sefardita Canções da Aurora ao Crepúsculo.
Os sefarditas tinham sempre uma música para cada ocasião, da aurora ao crepúsculo. Entoavam canções para celebrar o nascimento, o namoro, o noivado, o casamento. Depois da diáspora, o repertório que conhecemos como música tradicional sefardita, com mais de 500 anos de sobrevivência no exílio, chegou até nós por transmissão oral e graças ao empenho das mulheres. Foram as mulheres quem durante estes séculos, acompanharam as tarefas domésticas e se ocuparam das crianças com os acordes da canção sefardita, prepararam as festas e consolaram a dor com uma música que sobreviveu até aos nossos dias.


Na cultura judaico peninsular, o acervo musical inclui poemas hebraicos, cristãos e árabes e foi expoente relevante de uma Idade de Ouro situada entre os séculos X e XII. A variedade temática é rica. Coplas paralitúrgicas, versões burlescas de textos cantados em celebrações religiosas, mesclam-se com géneros tradicionais de transmissão oral. Em tempos de paz, de festas e de feiras, ouvia-se a canção popular jogralesa. A euforia amorosa, a volúpia do prazer sob o signo de Vénus enriqueciam e renovavam o veio lírico de uma primitiva poesia feminina, matriarcal, da România e também comum às cardjas e muaxáhas hebraicas e árabes. Numa aliança primordial a palavra, a música e a dança, aliavam-se nas romarias, em festividades. Jograis, cantadeiras, soldadeiras, trovadores…, ao som de adufes, violas de arco, saltérios, guitarras, sonalhas… conviviam. Partilhavam a alegria e esta proximidade teceu afetos e conflitos, semelhanças e diferenças.
A partir do século XII, a guerra de civilizações e o fundamentalismo religioso perturbaram Sefarad. A invasão dos Almóadas e a Reconquista Cristã geram uma história infindável de intolerâncias; vencia a proposta de anorexia mental, face ao caleidoscópio cultural e religioso, na Península Ibérica.
Em 1492 – Espanha – e 1496 – Portugal -, a expulsão dos judeus e mouros, afasta muitos descendentes de Sara e de Abraão. Os que permanecem em Portugal, forçada ou voluntariamente, serão batizados; mas entre os cristãos-novos não se apaga a cultura aprendida no lar. A maioria simulará ser cristão, mantendo práticas judaicas, no interior da comunidade. Guardam a memória de melodias e de palavras reveladoras de uma história de fidelidade.
E se nem todo o corpus musical sefardita procede da Idade Média peninsular, há reminiscências legíveis da interculturalidade, no Cancioneiro e Romanceiro sefarditas. Preencher as horas de ócio, acompanhar trabalhos, animar festas e jogos, a par de canções de embalar, de amor, humorísticas, o contar de epopeias, enchem de prazer festas familiares, os casamentos… Este legado incorporou, depois, motivos de povos e lugares onde se radicaram judeus expulsos da Península. E cinco séculos depois, nas cantigas sefarditas tradicionais, desvelam-se fios que falam a história de povos que construíram um legado cultural comum, apesar das adversidades históricas.

Maria Antonieta G

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