História Judaica
As Comunidades Judaicas na Idade Média
Desde o fim do Império romano que uma minoria judaica existia no território que depois veio a ser Portugal.
Aquando da fundação da nacionalidade, em 1143, esta minoria já se encontrava disseminada em algumas localidades importantes como Santarém que possuía a mais antiga sinagoga nacional.
A população judaica aumentava, favorecida com a necessidade que os primeiros reis (século XII) sentiam de povoar o território que ia sendo conquistado aos mouros.
Em todos os locais em que o número de judeus superava a dezena, era criada uma comuna ou aljama cujo centro organizacional era a sinagoga. O seu sino chamava os fiéis não só à oração como também para lhes fornecer qualquer informação vinda do rei ou qualquer decisão tomada pelo rabi-mor. A sinagoga era a sede do governo da comuna.
Já no século XIII, D. Afonso II legisla (Ordenações Afonsinas) as relações entre cristãos e judeus pois estas começavam a criar dificuldades à minoria. Quer isto dizer que: os judeus não podiam ter serviçais cristãos sob pena de perda de património; qualquer judeu converso ao cristianismo que retornasse à religião original podia ser condenado à morte; não podiam os judeus ocupar cargos oficiais de modo a que os cristãos não se sentissem prejudicados.
Na época do Rei D. Dinis cada comuna tinha uma ou mais judiarias. Neste tempo, o rabi-mor tinha delegado seus, chamados ouvidores, nos principais centros judaicos do pais: Porto (Região de Entre Douro e Minho); Torre de Moncorvo (Trás-os-Montes); Viseu (Beira); Covilhã (Beira/Serra da Estrela); Santarém (Estremadura); Évora (Alentejo) e Faro (Algarve). Estes ouvidores exerciam verdadeira jurisdição sobre todas as comunidades judaicas nacionais.
A sinagoga era um local tão importante do ponto de vista religioso (como era a igreja para os cristãos) quanto civil; era lugar de assembleia e reunião dos membros da comuna.
Os Últimos Judeus Secretos de Sefarad - A Vida económica até finais do século XV
O crescimento do comércio no Portugal da Idade Média deve-se muito à actividade dos judeus.
Já as cartas de foral o registam, casos de Évora (1166), Covilhã (1186) e Pinhel (1200).
Este tipo de actividade económica promovia financeiramente parte da população hebraica, facto que permitia invejas e queixas, como por exemplo aquando da cobrança de juros no empréstimo de dinheiro ou no preço de arrendamento. Em Castelo Rodrigo, nos planaltos a norte da Serra da Estrela já em 1321 o concelho se queixava ao rei D. Dinis dizendo que “o s judeus emprestavam dinheiro a tais juros que arruinavam os moradores da vila e das aldeias vizinhas”.
Na agricultura, o cultivo da videira e da oliveira e por conseguinte, a produção de vinho e azeite em adegas e lagares era muito importante, por exemplo, nas comunidades da Serra da Estrela.
Vinda dos Judeus Espanhóis
A população judaica foi sempre crescendo ao longo da Idade Média. Se em 1400 existiram em Portugal cerca de 30 comunidades e alguns milhares de famílias, na data da chegada de Colombo à América haveria mais de 100 judiarias e dezenas de milhares de habitantes.
As razões do aumento da população são as seguintes:
-a quase ausência de levantamentos antijudaicos em Portugal;
-o crescimento dos movimentos contra os judeus em Espanha (Navarra, Castela e a Aragão) desde meados do século XIV;
-o estabelecimento da Inquisição e a expulsão dos judeus da Andaluzia (Espanha) nos primeiros anos de reinado dos reis católicos;
-o início do processo dos descobrimentos portugueses com a abertura de novas rotas marítimas e comerciais.
No total viveriam em Portugal cerca 30.000 judeus – 3% da população. Em 1492, ano da descoberta da América, os reis católicos promulgam o édito de expulsão dos judeus de Espanha.
Precisamente, também no ano da unificação final de todo o território desse país (com a etapa final da reconquista cristã – a tomada de Granada), se inicia verdadeiramente a Diáspora de Sefarad.
D. João II acolhe muitos desses judeus, cujo total superaria as 120.000 pessoas. Outros utilizaram Portugal como local de passagem.
Os Judeus na época dos descobrimentos
Quatro anos depois do acontecido em Espanha, o sucessor de D. João II, D. Manuel, casado com uma filha dos reis católicos e muito pressionado por estes, promulga também o édito de expulsão. Longe de ser consensual, esta política não agradou a todos, principalmente nos meios da ciência e da escrita. A D. Manuel também não agradaria ver partir grande parte da dinâmica do reino. Por isso, congemina a estratégia da conversão e baptismo forçado. Esta atitude foi criticada por muitos, inclusive por parte da igreja católica como foi o caso do Bispo de Ceuta, D. Diogo Ortiz, colegado do judeu Mestre José Vizinho da Covilhã na junta científica (para os descobrimentos) do rei D. João II.
D. Manuel sabia que ia perder aqueles que devia segurar. Assim tentou decretar medidas que simultaneamente favoreciam as conversas e eram um convite à abjuração para os renitentes.